A nau dos loucos que vaga sem rumo
Vai sem terra, sem destino e sem prumo
É na tempestade e no Sol a pino
Vai à deriva, à sorte, em desatino
Estranho prisioneiro da passagem
Segue perdido nessa tola viagem
Com marinheiros, cidade em cidade
Das águas bravias aos muros e grades
Não é louco quem quer, só é louco quem pode
Da bestialidade do fim dos tempos
Aos simples vícios dos homens atentos
Pois da própria razão, agora é parte
Em Dom Quixote, Hamlet e toda arte
Fascinante insensatez de desejos
Imagens de animais renascentistas
Que representam profundos segredos
Da prisão à obsessão dos artistas
Não é louco quem quer, só é louco quem pode
Mas os vazios distantes leprosários
De insanidades se tornam cenários
Em meio ao medo dessa desrazão
Da própria essência de seu coração
Porém à loucura de um visionário
Não atura monótona sensatez
Quem não tem cura é você, seu otário
A loucura um dia terá a sua vez
Não é louco quem quer