Mostraram-me um dia, na roça dançando,
Mestiça formosa, de olhar azougado,
Com um lenço de cores cruzado,
Nos lóbulos da orelha, pingentes de prata,
Que viva a mulata,
Por ela o feitor,
Diziam que andava, perdido de amor !
De em torno dez léguas, da vasta fazenda,
Ao vê-la corriam, gentís amadoras,
E aos ditos galantes, de finos amores,
Abrindo seus lábios de viva escarlata,
Sorri a mulata,
Por quem o feitor,
Nutria quimeras e sonhos de amor !
Um pobre mascate, que em noites de lua,
Cantava modinhas, lundus magoados,
Amando a faceira dos olhos rasgados,
Ousou confessar-lho com voz timorata...
Amaste-o, mulata,
E o triste feitor,
Chorava na sombra, perdido de amor.
Um dia encontraram, na escura senzala,
O catre da bela mucamba vazio,
Embalde, recordaram pirogas o rio;
Embalde, procuraram no escuro da mata,
Fugira a mulata,
Por quem o feitor,
Se foi definhando, perdido de amor.