Que nem o galo, canto a canto tece o dia
Com outros galos em seu canto matinal
A gente cose, voz em voz, a melodia
Feito um poema de João Cabral
Que nem a chuva, pingo em pingo, prazenteira
Põe primavera no quintal
Ou pouco a pouco a embarcação desce pra beira
De tronco em tronco no puxão do pessoal
Para pescarem mar de voz canção praieira e rosas na roseira
De um brasileiro Antonio ou Dorival
Que nem cigarra quando timbra uma a uma
Na samaúma e cria acordes musicais
A gente soma, som a som, e soa a turma
Com voz nenhuma a mais do que as demais
Que nem a chuva, pingo em pingo sertaneja
Põe Asa Branca nos quintais
Ou como o mar roça na areia e ela solfeja
A onda quebra feito um naipe de metais
Cantar pra gente é copiar a natureza
Gonzaga a gente reza, pra amar chama Vinicius de Moraes
Aquele que canta só, também espanta o mal
Só que quando junta gente é muito mais legal
Cantar em bando e ir se ouvindo, se descobrindo, harmonizando
É muito lindo, tanto coração cantando igual