Todo dia, o mesmo horário
4, 0, 1 é o meu itinerário.
A mesma lotação lotada de solidão
companheira da aflição que sufoca meu coração,
eu um simples cidadão, imigrante, nordestino.
Infelismente só eu e meu filho,
fiquei viúvo, vendi tudo e vim pra cá,
com a ilusão de que o suldeste é o lugar,
pra ficar rico? aham! sei que não dá,
eu só queria ver meu filho estudar,
talves se formar, quem sabe ser doutor
que foi o que faltou quando a mãe dele nos deixou.
3000 mil quilômetros fugindo dessa dor,
mais de nada adiantou olha pra mim o que eu sou,
simplismente refém do meu destino,
não reconheço nem mesmo o meu menino,
um estranho no ninho, assim é meu filho,
a tal da droga é mesmo coisa do diabo.
Vivemos juntos porem separados,
o abismo do crack é um obstáculo.
Difícil de transpor mais tenho fé no meu senhor,
Eu consigo atravessar, olho pra lá...
Vejo os brinquedos começo a me lembrar,
daquela cena ele brincando no sofá
com seu carrinho vermelho
daqueles de bombeiro,
pra que bombeiro irmão? se não há nada nesse mundo capaz de apagar, quando a saudade vira fogo e começa a queimar.
Se eu tivesse o talento... Se eu fosse o Dono do Tempo...
eu mudaria tudo que já foi pra ser assim outra vez nós dois.
2x
Quando ser, outra vez nós dois,
vai chover pingos de amor.
Pai... Que saudades eu sinto,
o tempo tem hora que é inimigo,
eu vejo as crianças, as pessoas, o mundo,
fico parado imaginando o futuro, aqui é obscuro,
ninguém é ninguém, só a pedra de crack me faz bem,
eu mau pra ser sincero eu já nem sei
ao certo, só sei que faço parte desse inferno.
É difícil pra mim é complicado, ser escravo, servo
Do diabo, trocar a noite pelo dia e vice-versa,
Pintar com sangue maldade na tela da vida.
Pai, o senhor não imagina,
o que é overdose de cocaína,
como são as pessoas sentindo pena de você,
unica regra matar ou morrer.
Sobreviver viciado é difícil,
amor? hã!, impossivel,
não tenho compaixão veja bem
por ninguém, pela droga já roubei já matei,
já fiz mãe chorar, já chorei por dentro...
Fazer o que truta é só lamento.
Pai... me perdoa eu não quiz,
jamais te fazer infeliz,
eu tô olhando a sua foto na carteira.
No coração a magoa, a tristeza,
o rancor, o ódio, o medo, eu não sei,
talvez um amor pra me fazer um bem.
Se eu tivesse em fim o talento...
se eu fosse se pá o Dono do Tempo...
eu mudaria tudo que já foi pra ser
outra vez nós dois, outra vez nóis, pai outra vez nós dois.
Quando ser, outra vez nós dois,
vai chover pingos de amor.
Desesperado, não sei mais o que faço,
meu filho desandado, dentro do barraco
é só desgraça, até a aliança da sua mãe virou fumaça.
Segundo domingo de Maio,
comemorou tendo um ataque seguido de desmaio,
meu peito arde...
Quantos moleques se matando pelo crack,
e os traficantes nas manssões nos AUDIS.
Eu me refiro a alta patente,
não a gente da minha gente,
os guerreiros sobreviventes, soldados do morro,
estilo Zorro, defendendo seu reino, seu lar.
O capitalismo, consumismo leva o homem a matar,
então, vou confessar, tô disposto a mergulhar.
Vou acender uma pedra e viajar pro mesmo lugar
Onde meu filho está.
Quem sabe assim ele consiga entender,
que eu tô com ele pra viver ou morrer
que eu tô com ele irmão, que
eu tô com ele pra viver ou morrer.
Meu Deus ... Por favor o que é que é isso,
me sinto um monstro, um lixo,
em ver o meu Pai nesse estado agonizando,
alucinado, me olhando e chorando,
dizendo... pra não esquecer que me ama,
eu sinto um nó na garganta.
Meu corpo treme eu já não me controlo, no olhar
lágrimas remorso, a minha mente entra em colapso profundo.
Meu filho eu te amo acima de tudo...
Palavra repetida que me toca,
nesse momento eu sinto nojo da droga...
Liberto pelo Pai em todos os sentidos,
não prevalece sobre mim o inimigo.
Vamos embora pai, o senhor me salvou,
no coração acabou o meu rancor.
Vamos ser outra vez nós dois, pra chover pingos de amor,
só nós dois, pra chover pingos de amor.
Quando ser, outra vez nós dois, vai chover pingos de
amor.