Entra, meu amor, fica à vontade
E diz com sinceridade
O que desejas de mim?
Entra, pode entrar que a casa é tua
Já que cansaste de viver na rua
E os teus sonhos chegaram ao fim
Eu sofri demais quando partiste
E passei tantas horas tristes
Que nem quero lembrar desse dia
Mas de uma coisa pode ter certeza
O teu lugar aqui na minha mesa
Tua cadeira ainda está vazia
Tu és a filha pródiga
Que volta procurando em minha porta
O que o mundo não te deu
E faz de conta que eu sou teu paizinho
Que há muito tempo aqui ficou sozinho
A esperar por um carinho teu
Voltastes estás bem contente
Só me encontrastes um pouco diferente
Vou te falar de todo coração
Não te darei carinho nem afeto
Mas pra te abrigar, podes ocupar o meu teto
Mas pra te alimentar, podes comer meu pão
Atiraste uma pedra
No peito de quem
Só te fez tanto bem
E quebraste um telhado
Perdeste um abrigo
Feriste um amigo
Conseguiste magoar
Quem das mágoas te livrou
Atiraste uma pedra
Com as mãos que essa boca
Tantas vezes beijou
Quebraste um telhado
Que nas noites de frio
Te servia de abrigo
Perdeste um amigo
Que os teus erros não viu
E o teu pranto enxugou
Mas acima de tudo atiraste uma pedra
Turvando esta água
Esta água que um dia
Por estranha ironia
Tua sede matou
Atiraste uma pedra
No peito de quem
Só te fez tanto bem