Sou retirante, sou migrante no sul ; Seu doutor
Sou nordestino pau prá toda obra,
Onde minha mão de obra não tem valor,
De verão a inverno deixo meu suor no serão
Se não tenho mais pra oferecer,
Também não há motivo pra divisão
Sou cabeça chata, sou terra seca, sou pau de arara
Baianão, cabra da peste ;
São termos que usam pra discriminar
Mas por que seu doutor não se preocupa em reparar
Que estou na construção civil
De janeiro a janeiro sem reivindicar?
Se não reivindica, seu doutor paga quanto quer
Por não ser esclarecido, digo : Seja o que Deus quiser !
Entre seca e progresso, tem algo estranho sem esclarecer
É o outro lado da moeda, que não se vê
Se mais uma seca, mais retirantes de lá
Aumentando no sul, a chance pra seu doutor especular
Há quem diga que não, mas eu acho que sim, meu senhor
Seca no norte, em outras palavras,
É chuva na horta do seu doutor !
(bis)