Amigo é feito casa que se faz aos poucos
E com paciência pra durar pra sempre
Mas é preciso ter muito tijolo
E terra preparar reboco, construir tramelas
Usar a sapiência de um João-de-barro
Que constrói com arte a sua residência
Há que o alicerce seja muito resistente
Que às chuvas e aos ventos possa então a proteger
E há que fincar muito jequitibá e vigas de jatobá
E adubar o jardim e plantar muita flor toiceiras de resedás
Não falte um caramanchão pros tempos idos lembrar
que os cabelos brancos vão surgindo
que nem mato na roceira que mal dá pra capinar
e há que ver os pés de manacá cheínhos de sabiás
Sabendo que os rouxinóis vão trazer arrebóis
Choro de imaginar!
Pra festa da cumieira não faltem os violões!
Muito milho ardendo na fogueira
e quentão farto em gengibre aquecendo os corações
A casa é amizade construída aos poucos
E que a gente quer com beira e tribeira
Com gelosia feita de matéria rara e altas platibandas
Com portão bem largo
que é pra se entrar sorrindo nas horas incertas
Sem fazer alarde, sem causar transtorno
Amigo que é amigo quando quer estar presente
Faz-se quase transparente sem deixar-se perceber
Amigo é pra ficar, se chegar, se achegar
Se abraçar, se beijar, se louvar, bendizer
Amigo a gente acolhe, recolhe e agasalha
E oferece lugar pra dormir e comer
Amigo que é amigo não puxa tapete
Oferece pra gente o melhor que tem
E o que nem tem, e quando não tem
Finge que tem, faz o que pode
E o seu coração reparte que nem pão