Quando eu era bem criança e corria
Pelos campos sem me preocupar
Caminhando entre florestas
Pelos vales, pelos rios daquele lugar
Escutando os passarinhos
Que não tinham hora certa pra poder cantar
Junto com aquele povo
Que não tinha nem um tempo pra poder sonhar
Tinha uma laranjeira
No quintal da minha casa
Que eu dormia em sua sombra pra descansar
Quando era de tardinha
E o sol ia se pondo pra lua chegar
A gente se reunia
Na casa do Seu Francisco para farrear
Escutar suas estórias, suas lendas
Sua fama de bom cantador
Escutar suas verdades, sofrimentos
De um homem, de um trabalhador
Tinha uma laranjeira
No quintal da minha casa
Que eu ficava em sua sombra a prosear
E se chegava setembro
Todo o meu cafezal era um lençol florido
Eu corri a pra floresta
Pra chupar cacho de mel de canudo de pito
E se a gente quisesse tinha cravo
Tinha lírio e tinha açucena
E também tinha jasmim
Que as meninas cultivavam sempre no jardim
Tinha uma laranjeira
No quintal da minha casa
Que eu sentava em sua sombra para cantar
Hoje minha laranjeira
Não há mais sua sombra para descansar
E nem tenho mais motivo mesmo
Porque é impossível pensar em sonhar
Não escuto mais estórias
Nem as lendas que o mestre tinha pra contar
Mas vejo tanta mentira
Que às vezes dá vontade de chorar
Minha laranjeira guarda um fruto temporão
Que eu levo uma prosinha quando eu voltar