Tão pura, recatada
A moça sem decote da perna fechada
Não fala nada
Mas se anda decotada é logo
Cantada, invadida, ferida, abusada
E ainda é condenada
Vou berrar, estilhaçar, explodir, me parir
Correr na chuva, me despir
Me alastrar, me empoderar
Nem vem tentar fingir que eu não tô aqui
Vá ver se eu tô na esquina
Não nasci puta, nem dama, nem de estimação
Engole tua malícia
Porque tu não vai mesmo me domesticar
Me agradar, me calar, me tirar
De flor que tenta, anjo que guarda
Eu pago um preço caro
Por ser, viver aquilo que me é natural
Eu não me calo
Não vou ficar de quatro nem ser
A princesa do carro importado do muro
De vidro da tua redoma
Sou Frida, sou Simone
Sou Rosa, sou Clarice, Pagu, Capitu
Safo, Aqualtune
Joana D'arc, Hipátia, Madona
Maria Quitéria, Bonita, da Penha
Curie, Maria Madalena
Dandara, Tarsila, Cecília, Virgínia
Cássia, Elza, Nise, Coralina
Ruth, Nina, Rita e Chiquinha
Eu não vou enfeitar a tua mobília