Ave milonga pampeana Maria dos campeadores
Rogai por nos sonhadores em cada tarde do pago
Nos que lavamos a erva pelas horas chimarronas
Enfumaçando cambonas pra disfarçar os amargos
Ave milonga fronteira senhora dos cantadores
Que andai pelos corredores enluarando tições
Venha abençoar os sulinos que extraviaram seu canto
E desgarraram do campo na ilusão de outros galpões
Ave milonga campeira santa mãe dos payadores
Os que descantam amores quando a solidão se agarra
Os que encarnam as dores todas penas do universo
E se libertam num verso na vastidão das guitarras
Ave milonga aragana oração das invernadas
Cruz negra que nas estradas palanqueia os caminhantes
Abençoai os marianos que tapeando o chapéu
Firmaram marcha pra o céu na ânsia de chegar antes
Ave milonga profeta bendição para um tempo novo
Vem batizar o meu povo que enraizou-se nas vilas
Que changueia o pão divino no portal de um cola fina
E toreia a própria sina no tenteio de alguns pilas
Ave milonga vaqueana onde um cristão reza o terço
Berço pra um guitarreiro transpor cantiga em puaço
Vos peço com devoção que no juízo final
Eu ressuscite imortal com uma guitarra nos braços
Ave milonga... bendita prece entre as guitarras