Quem já cruzou na noite distâncias largas
e viu a Querência inteira sumir num breu
precisa a graxa do trevo das invernadas,
cogote duro do pingo para a jornada
e o tino de achar no escuro o que se perdeu
Quem já encilhou em noite de tempo feio
e não achou suas estrelas formando cruz
de nada adianta guiar a perna do freio
no mundo das sombras grandes, cavalo e arreio
são cegos da madrugada tateando a luz.
Quem ganha a boca da noite jamais esquece
de haver sido um dos assombros que a noite tem
talvez seja um destes vultos que assustam ranchos
quem sabe um morcego a mais em asas de poncho
alados mas prisioneiros que o sol não vêem
Hay hora na noite grande que o vento pára
e vira o rumo perdido na escuridão
é o mesmo tempo que a voz da macega cala,
o pingo senta de susto arrastando a mala,
e a gente chega a se tocar com a solidão
Cruzar o passo da noite, rever querência,
tranquear com a vida nos bastos, surgir do breu
é reencontrar estrelas num céu de ausências
juntar pedaços do mundo das benquerenças
é o tino de achar no escuro o que se perdeu