Pode me prender, pode me sangrar
Pode mandar lá o Bope pra me matar
Pode me pregar na cruz, me trucidar
Expor cada pedaço do meu corpo nas praças
que eu sou mais do que tu pensas
sou mais que tua crença
Sou o espectro que ronda as mansões, fazendas
Sou o fim do preconceito, sou o gueto em ascensão
A morte do capital, o velório da escravidão
Eu sou o espírito que vaga, eu sou a saga de Trotsky
ressuscitado enquanto o stalinismo morre
Eu sou o fim de alcatraz, das prisões, dos presídios
Mãe, nao chore mais, resgate seu filho do lixo
Vem! E siga-me, empunhe as bandeiras que o castelo vai cair
Quero sorrir, eu sou os prantos daquele que me escravizou
por quase quatrocentos anos
Eu vim para que todos tenham vida, eu vim pra libertar
quem se escravizou com a bíblia
Fanatismos, paraísos celestes, pastor cheio de dinheiro
com o sofrimento da plebe
Sou rebelde haitiano insurgente, armado até os dentes
A morte do tenente de Tio Sam
A resistência iraquiana, eu sou o novo Vietnã
Eu glorifico a memória de quem luta pra viver
eu glorifico a memória de quem vive pra lutar
eu glorifico a memória dos que morreram lutando
eu glorifico a memória dos que seguirão tombando
Eu sou o pecado comunista que o papa excomungou
a flor vermelha que a bomba de Hiroshima não matou
Eu sou a dor de quem te mata agora, do professor
neoliberal dentro da escola
Eu sou o orgulho do aluno que ocupa a reitoria
o hip hop militante dentro da periferia
Eu sou a agonia do racismo, do machismo, do patrão
pode me sangrar, meu sangue trás revolução. Então
Pode me sangrar, que eu vou purificar essa terra sem fim
eu vou fazer brotar uma vermelha flor nesse imenso jardim
Crucifica-me me cubra com a mortalha e mesmo assim verás
que nada aqui nos para não, nãaao
Pode me sangrar que meu sangue é perene
pode torturar que minhas pernas não tremem
Pode me xingar, que não haverá desculpa
sou aquela favelada que você chamou de puta
Eu vim pra resgatar o cristianismo de verdade
que se opõe a exploração e nao à Marx
Eu sou de classe, eu sou de guerra
eu sou você, longe da pedra e da tela
Sou aquela que comanda a ocupação do latifúndio
da Nestlé e da Parmalat enquanto a rede globo late
Sou a dor do parto de uma nova sociedade
sem racismo, sem machismo e sem classe
Pode chamar lá aquele preto que tua adora
que oprime outros pretos, branco por dentro e por fora
Obama, não é mano, olha o cano dos fuzis
apontado pra cabeça de muçulmanos civis
Sou aquela favela que empunha um mafaú
mirando na elite apontando no capital
Sou a mãe do imortal, 'cê' ta ligado
da liberdade, Bequimão, do coroado
Eu sou o lado oprimido, que se viciou nos livros
Sou o fim da guerra interna que extermina nossos filhos
Sou a vela que não acende no velório do burgues
o buquê de flores murchas no mausoléu de Sarney
Uma fora da lei sem porte legal de fuzil
cansada de obedecer seu código civil
A filha de Flaviano, quilombola do Charco
pra acabar com sua raça de latifundiário
Eu sou aquela grávida, que não vale cem reau
humilhada e condenada por furtar um enxoval
Eu sou o mal, eu sou o bem
depende de você também
bem me quer, mal me quer
como vem, vai também
Eu vou além! Quero creche e moradia
Eu vou além! Quero o fim da oligarquia
Mas se quiser, acione a artilharia
pode me sangrar que meu sangue é comunista
Pode me sangrar, que eu vou purificar essa terra sem fim
eu vou fazer brotar uma vermelha flor nesse imenso jardim
Crucifica-me me cubra com a mortalha e mesmo assim verás
que nada aqui nos para não, nãaao