Eu sou a expectativa
Sou o calor
Sou o sabor
Sou o odor
Sou o amor
Sou o riso que troveja por dentro das entranhas
E sai em sons de festa
Nas fendas das gargantas sensíveis
Sou o elo que seduz
E se deixa fortalecer
Quando encontra amarras poderosas
Entre as unidades que o compõem
Sou os dores, desses que defendem
As criaturas da autodestruição
E que dá o tempero à maturidade da alma
Sou o espasmo que se arrebenta em júbilo
Sou a esperança de ser um ser
Em excelência à imagem do criador
Sou o infinito
Sou o sentido
Sou a graça
Sou a fogueira que aquece o último desmaio de paixão
E o primeiro beijo febril dos amores possíveis
Sou o devaneio que permite a viagem de ida e volta
Para os lugares recônditos do coração
Sou a saudade que enxovalha os olhos
E deixa-se derramar em chuvas
Quando se tem o objeto amado à distância
Sou a despedida
Aquela que despedaça-nos por dentro
Juntando-nos em pensamento e telepatia
Sou o silêncio
Sou a paz interior que projeta o verdadeiro
Eu necessário para o crescimento divino
Sou os sonhos
Quando partem os amores impossíveis
Rasgando os véus tecidos com as frágeis ilusões
Para renascerem mais fortes com a certeza
Do prêmio eterno
Sou a doce solidão que faz fugir de si mesmo
Para ser o outro que se busca sem cansaço
Sou o amado
Sou o bafejo ardente das fossas nasais
Aumentadas pela libido
Que exala o perfume dos corpos em cio
Sou o cio que se repete ininterruptamente
E desabrocha em multiplicidade de espécies
Sou os faróis dos olhos ardorosos
Sou a visão
Sou um milagre
Verdadeiro
Divino
Uma dádiva do pai
Sou a vida!