Suas mãos agarram o volante.
Na carreta a mais de cem, ele vai voar.
Nem ao menos foi pra nova iorque,
Está prestes a bater.
Diz a frase do caminhão pra lhe acalmar:
“Se a vida der as costas, passe a mão na bunda dela.”
Pois na raiva o bicho pega, então vou beber,
Chumbo pra ficar em paz
E lembrar de umas letras do raul,
Quando jovem eu era tão sagaz.
Hoje o rock anda frouxo demais.
Ei, irmão, só eu sei
Quanta doideira eu fiz, tenho que te mostrar.
Guardo em casa uma seleção
Com o que restou da minha coleção,
Só esperar o relógio bater,
Depois de trampar vamos espairecer.
São discos de vinil, com as bandas mais legais,
De quando o rock nacional passava na tv.
Quieto aí que lá vem o patrão,
To por um fio, não vou vacilar.
– Mas que diabos os dois estão fazendo aí? Eu não
Pago pra vocês ficarem batendo papo.
– Desculpa chefe, o gilson só estava me contando da
Sua coleção de discos. Ô, e eu nem imaginava que meu
Companheiro de firma era um baita músico!
– Foda-se, josué! Não quero saber de coleção de disco,
Porra nenhuma. É o que dá colocar dois vagabundos
Na transportadora. E você, gilson, vai ficar me olhando
Com essa cara?
Não fale assim com meu comparsa,
Que na verdade a culpa é toda minha.
Já estava mesmo esperando
Um dia só pra lhe mandar a merda.
To demitido, eu sei, eu nunca me adaptei,
Sou mesmo um caminhoneiro errante.
Vou vender rede então ou vou dançar no sinal.
Vou escolher viver de sonho:
“Sou imortal não tenho onde cair morto.”
– Ei, moço! Ô, moço! Me dá um trocado aí? Eu venho
De longe, moço.
– Ô, rapaz, to com pressa.
– Não, não, não, mas espera aí. Eu sei até tocar aqui, ó:
“Sou pequeno você é o maior, você me humilha...”
– Tá bom, tá bom, tá bom, para, para! Vai, vai, diga
Lá, diga lá!
– Oh, moço, eu não... Eu não sou de mentir, eu só queria
Um dinheiro mesmo é pra tomar minha cachacinha.
Eu não to mexendo com droga, não to fumando
Pedra, nem nada. Eu só queria mesmo é tocar meu
Roquezinho antigo.
– Ai, ai... Ok, tudo bem. Menos mal que você vai direto
Ao assunto, não é? Deixa eu ver se tenho algo pra te
Dar aqui. Deixa eu achar aqui, ah... Mas, espera! Eu
To te reconhecendo! Você não tocava naquela banda?
Esqueci o nome... Eu vi alguns shows, vocês eram bons!
Ei, ei, não fuja, volte aqui, rapaz! Ei, volte aqui!
Não me leve a mal.
A que ponto cheguei?
Vou fugir, vou vazar daqui.
Não aguento os meus dias,
Durmo no banco da praça.
Vou voltar naquela empresa
Terminar o que eu comecei.
Josué é meu colega, tem as chaves do caminhão,
Posso render o porteiro e seguir rumo à serra do mar.
Sinto raiva e loucura,
Só queria era recomeçar,
Mas o meu peito é um caminhão
Desgovernado e a desgovernar...
E o gilson conseguiu sequestrar o caminhão.
Precisava acelerar e explodir com tudo sem perdão.
Nosso amigo já botou várias pistas pra ferver
Escrevendo suas canções,
Mas nunca teve o merecido.
E então foi batalhar sem ter paixão, só errou.
Era avoado para ter uma vida tão banal,
Sem a emoção de cantar.
Eis que o carro da polícia o alcançou,
Gilson viu e se jogou com o caminhão.
Para sempre ele será um sonhador,
Ele não morreu.
Composição: Leandro Delmonico / Igor Filus